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Na tarde de segunda feira 24 /03/1924 a Rádio Sociedade da Bahia foi inaugurada pela primeira vez. Logo após a solenidade, realizada no Palacete de Giovano Mercuri, bisavó de Daniela Mercury, na Rua Chile, e após o costumeiro brinde de champanhe, os fundadores da emissora foram para a casa e mais de um ano se passaria antes de se reunirem de novo para uma segunda inauguração, no mesmo local, em 14/04/1925; então ocorreu a primeira transmissão oficial. E mais um par de anos transcorreriam antes da Sociedade, PRA4, estruturar uma grade de programação diária.
A Rádio Sociedade da Bahia como todas as emissoras de seu tempo, sem exceção, não vingou e quase não começou, senão fosse a providencial ajuda do Governo Góes Calmon que em outubro de 1924 concedeu um auxílio de 20 contos de reis para a compra de equipamentos em Nova Iorque. Em dezembro os diretores da rádio solicitaram ao governador isenção da taxa de impostos de alfândega, enquanto os transmissores não chegavam. E até a segunda inauguração o Dr. Cesário de Andrade, para não deixar a chama apagar, costumava reunir na sua residência alguns associados para ouvirem através de seu aparelho radioamador, um, ou outro, concerto, irradiado de outras emissoras do Brasil e do mundo. Entretenimento entre amigos, nada mais do que isso.
As razões do insucesso da Sociedade da Bahia nos primórdios foram as mesmas que quase inviabilizaram outras emissoras do país: o modelo adotado, na contramão do resto do mundo. Enquanto nos Estados Unidos e Europa a radiodifusão nasceu com grandes investimentos de fornecedores de equipamentos, no Brasil criamos um protótipo de rádio direcionado para a educação e teoricamente sustentado pelos próprios ouvintes, agregados em sociedades e clubes, mediante a contribuição de 5 mil reis. Só podia dar errado. O improviso prevaleceu. Não tínhamos aparelhos receptores, os modelos de cristal de galena eram vendidos em lojas de ferragens e ninguém sabia ao certo que negócio era esse chamado rádio. E no caso da Sociedade da Bahia, esta, foi inaugurada sem dispor de um transmissor sequer.
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O jazz feminino da Rádio Sociedade da Bahia em 1935
Tudo na história do rádio foi glamurizado. A começar pelo marco inicial, a dita “transmissão” realizada em 07 /09/1922, no Rio de Janeiro, durante a grande exposição comemorativa do Centenário da Independência. Os historiadores carregaram nas tintas, disseram que foi um grande momento, o destaque do evento. Foi mesmo? E então por que não há registro fotográfico disso e por que nenhuma das três revistas semanais da época, que dedicaram entre 15 a 20 páginas de cobertura, cada, não registraram uma linha sequer do suposto grande acontecimento? E se os jornais apenas publicaram um release da Westinhouse, dez linhas, lá num canto de página perdido, é por que foi um evento menor.
Mas, voltando a nossa querida Radio Sociedade que penou até se tornar uma grande emissora, sem nenhum demérito para seus fundadores, cinco visionários que não cabe aqui descrever seus talentos por falta de espaço, ela cresceu quando os amadores saíram de cena e entraram os empresários. Ocorreu assim no resto do país. Sobre a gestão de empresários e seguindo as regras de mercado e não apenas o idealismo dos mentores, o rádio evoluiu para o jornalismo, o entretenimento e a prestação de serviços. A fundação da Mayrink Veiga no Rio de Janeiro, em julho/26, com suporte empresarial, foi o divisor de águas.
Na Bahia a Rádio Sociedade cresceu sacudida pela concorrência. Em especial da Rádio Comercial, uma emissora com uma excelente grade de programação e com uma trajetória de inovação enquanto viveu. Surge em 1933 e desaparece em 1937, junto com a Rádio Clube, ambas com o registro cassado pela ditadura do Estado Novo por não se enquadrarem nas novas normas regulatórias. Na década de 40, a Sociedade já era tida como uma das melhores emissoras do país e em 1956 deslanchava de vez ao inaugurar em festa de arromba dois potentes transmissores que lhe permitiram um alcance extraordinário. (Nelson Cadena)
Publicado originalmente no Correio, edição de 05 de maio de 2017